Como Napoleão Nunca Existiu, ou O Grande Erro, Fonte de um Infinito Número de Erros a Serem Vistos na História do Século Dezenove.
Por Monsieur J.-B.Péres, AOAM, bibliotecário da cidade de Agen
Publicado pela primeira vez em 1827
Napoleão Bonaparte, do qual muito tem sido escrito, jamais exitiu. Ele é simplesmente uma figura alegórica. Ele é uma personificação do sol, e essa asserção é obtida se nós olharmos como tudo que foi publicado sobre Napoleão o Grande é plagiado da Grande Estrela.
Vamos ver, então, em resumo, o que nos é contado sobre este homem maravilhoso.
É dito:
- que ele era chamado Napoleão Bonaparte;
- que ele nasceu numa ilha no Mediterrâneo;
- que sua mãe era chamada Letitia;
- que ele teve três irmãs e cinco irmãos, três dos quais eram reis;
- que ele teve duas esposas, uma das quais lhe deu um filho;
- que ele deu fim a uma grande revolução;
- que ele teve dezesseis marechais imperiais sob seu comando, doze dos quais estavam em serviço ativo;
- que ele venceu batalhas no sul e foi derrotado no norte;
- que, finalmente, depois de um reino de doze anos, o qual ele iniciara com uma investida do Leste, ele foi embora e desapareceu nos mares do oeste.
Resta, então, determinar se estes detalhes diferentes são copiados do sol, e nós esperamos que qualquer um que leia este ensaio será convencido.
Para começar, todos sabem que o sol é chamado Apolo pelos poetas. Mas, não importam as circunstâncias ou causas de tal nome ter sido dado à estrela, é certo que significa "destruídor".
Agora, Apolo é a mesma palavra que Apoleão. Elas vêm de Apollyo ou Apoleo, dois verbos gregos que constituem a mesma palavra, e cujo significado é perder, matar, destruir. Então, se o alegado herói de nosso século foi chamado Apoleão, ele deveria ter o mesmo nome do sol e ele deveria, mais ainda, cumprir completamente o significado deste nome, e ele é nos apresentado como o mais destruidor dos homens que já viveram. Mas esta figura é chamada Napoleão, e então, existe uma letra inicial em seu nome que não estava presente no do sol. Sim, aqui há uma letra extra, inclusive uma sílaba, mas, seguindo a inscrição que pessoas engravam em vários locais da capital, o nome real deste suposto herói era Neapoleão ou Neapolião. Isto é o que nós vemos, notavelmente, na coluna da Vendôme Square.
Agora, esta sílaba extra não faz diferença. Esta sílaba é Grega, sem dúvida, como o restante do nome, e, em Grego, ne ou nai é uma das mais fortes palavras de afirmação, que nós podemos traduzir por "verdadeiro". Disso se segue que Napoleão significa "verdadeiro destruídor", "verdadeiro Apolo". Ele é, então, "verdadeiramente o sol".
Mas o que seu sobrenome significa? Que relação a palavra Bonaparte tem com a estrela-do-dia? Não é de todo imediatamente aparente, mas nós entendemos ao menos que, como bona parte significa "boa parte", nós estamos lidando com algo que tem duas partes, uma boa e uma má, algo que, mais ainda, é ligado com o sol Napoleão. Agora, nada é mais diretamente relacionado ao sol do que os efeitos de seu movimento diário, e estes efeitos são o dia e a noite, a luz e as trevas, a luz cuja presença ele produz e as trevas que prevalecem na sua ausência. Esta alegoria é retirada dos Persas: eles têm o império de Ahura Masda e o de Ahriman, o império da luz e das trevas, o império dos maus e dos bons espíritos. E são estes últimos, estes espíritos do mal e da escuridão, que pessoas usaram para invocar maldições com a expressão "Abi in malam partem". Se por malam partem alguém entende escuridão, não há dúvida que bona parte significa a luz -- isto é, o dia, em oposição à noite. Então não se pode duvidar que este nome tem ligações com o sol, especialmente quando alguém o vê associado com Napoleão, que é o próprio sol, como já demonstramos.
2. De acordo com a mitologia Grega, Apolo nasceu numa ilha no Mediterrâneo (a ilha de Delos); o nascimento de Napoleão também é localizado numa ilha no Mediterrâneo, e a Córsega foi escolhida em particular porque a posição da Córsega em relação à França, onde pessoas buscaram localizar seu reinado, é muito similar à posição de Delos em relação à Grécia, onde Apolo teve seus principais templos e oráculos.
Pausânias, é verdade, descreve Apolo como uma divindade Egipcia; mas, para ser uma divindade Egípcia, não foi necessário para ele nascer no Egito. É suficiente que ele foi tido como um deus ali, e é isto que Pausânias queria comunicar-nos: ele procurou nos dizer que os Egipcios o adoraram, e isto claramente estabilizou outro paralelo entre Napoleão e o sol, uma vez que é dito que no Egito Napoleão foi reputado como possuidor de uma capacidade sobrenatural, como o amigo de Muhammad, e que ele recebeu veneração ali que alcançou os níveis de adoração.
3. É dito que sua mãe foi chamada Letitia. Mas pelo nome Letitia, que significa "alegria", o amanhecer estava subentendido: a luz do dia nascente espalha alegria pela natureza. O amanhecer dá nascimento ao sol, como os poetas colocaram, por lhe abrir os portões do Leste com seus dedos rosados.
É também relembrável que, de acordo com a mitologia Grega, a mãe de Apolo era chamada Leto. Mas se os romanos fizeram "Latona" de Leto, foi preferível em nosso século fazer "Letitia" do mesmo, desde que loetitia é o nome do verbo loetor ou o fora de uso loeto, que significa "inspirar alegria".
É portanto certo que esta Letitia é encontrada, como seu filho, na mitologia Grega.
4. De acordo com o que nos é contado, este filho de Letitia teve três irmãs, e é fora de disputa que estas três irmãs são as três Graças, que, junto com a companhia das Musas, foram o ornamento e charme da côrte de seu irmão Apolo.
5. É dito que este Apolo moderno teve quatro irmãos. Agora, estes cinco irmãos são as quatro estações do ano, como iremos provar. Mas primeiro, não estaríamos surpresos de ver as estações representadas por homens ao invés de mulheres. Isto não deveria parecer pouco familiar, já que somente uma das quatro estações é feminina em Francês -- isto é, outono -- e, mais ainda, nossos gramáticos estão distantes de concordar neste ponto. Em Latim, porém, outono não é mais feminina que as outras três estações, então não há dificuldade de todo neste assunto. Os quatro irmãos de Napoleão podem representar as quatro estações do ano, e o que segue irá provar que eles realmente as representam.
Dos quatro irmãos de Napoleão, três (eles dizem) eram reis, e estes três reis eram Primavera, que reina sobre as flores, Verão, que reina sobreas colheitas, e Outono, que reina sobre as frutas. E como esteas três estações dão tudo à poderosa presença do sol, é dito que os três irmãos de Napoleão deram seu status real à ele e reinaram somente sobre sua vontade. E quando é adicionado que, dos quatro irmãos de Napoleão, existiu um que não era um rei, é porque, das quatro estações do ano, existe uma que não reina sobre nada: Inverno.
Mas se, para enfraquecer nosso paralelo, alguém disser que ao inverno não falta um império, e procurar dar a ele o triste domínio sobre tempestades e nevascas, que, em seu deprimente período empalidecem a paisagem, nossa respota iria estar na ponta da língua; isto é, nós iríamos dizer, que eles procuraram nos indicar o inútil e ridículo domínio que eles dizem este irmão de Napoleão ter sido investido após o declínio de toda sua família, o domínio que eles puseram sobre a vila de Canino em preferência a qualquer outra, porque canino vem de cani, que significa o cabelo grisalho da velha era fria, que recorda o inverno. Pois, aos olhos dos poetas, as florestas que coroam nossas montanhas são seu cabelo, e quando o inverno os cobre com sua geada, eles são o cabelo branco na velha idade do ano: Cum gelidus crescit canis in montibus humor.
Então, o alegado princípe de Canino é apenas o inverno personificado: inverno, que começa quando as agradáveis estações não existem mais e o sol está distante de nossas terras, que são invadidos pela criança apaixonada do Norte, o nome que os poetas dão aos seus ventos que, vindo destas derras, discolorem nossa paisagem e a cobre com uma brancura horrível. Isto proveu o assunto da mítica invasão da França pelos povos do norte, que se livraram de uma bandeira colorida por diferentes cores e trocaram-a por uma branca que supostamente cobria todo o país depois da partida do mítico Napoleão. Mas seria desnecessário repetir que é simplesmente um emblema das nevascas que os ventos do Norte nos trazem ao invés das cores adoráveis que o sol mantêm em nossas terras, antes de partir e levá-las de nós. É fácil ver analogias de tudo isso nas ingênuas estórias que o povo imaginou ter ocorrido em nosso século.
6. De acordo as mesmas estórias, Napoleão teve duas esposas, exatamente como pessoas designaram duas ao sol. Estas duas mulheres do sol foram a Lua e a Terra, a Lua de acordo com os Gregos (é Plutarco que atesta isto), e a Terra de acordo com os Egípcios, com esta notável diferença: de uma (a Lua) o Sol não teve filhos, e da outra ele teve um filho, um único filho: isto é, o jovem Hórus, filho de Osíris e Ísis, do Sol e da Terra, como se vê na Estória do Céu, capítulo 1 página 61 e seguintes. Ali há uma alegoria Egípcia na qual Hórus, nascido da fértil terra ao Sol, representa os frutos da agricultura; e pessoas colocaram o nascimento do suposto filho de Napoleão em 20 de Março, o equinócio de primavera, porque é na primavera que a produção da agricultura aumenta excepcionalmente.
7. Eles dizem que Napoleão pôs fim a uma praga devastadora que aterrorizou a França, e que era chamada a Hydra da Revolução. Agora, uma hydra é uma serpente -- a espécie não é importante, especialmente porque nós estamos lidando com uma estória. Era a serpente Python, um enorme réptil que era o objeto de medo extremo para a Grécia, que Apolo derrubou, matando o monstro, que era sua primeira façanha. E é por isso que Napoleão iniciou seu reino por matar a revolução Francesa, que exatamente tão quimérica como todas as outras coisas, pois nós vemos claramente que "revolução" é derivada da palavra Latina revolutus, que significa uma serpente que é enroscada em algo -- Python, e nada mais.
8. O famoso guerreiro do século 19 teve, eles dizem, 12 marechais imperiais na chefia de suas armadas e 4 inativas. Agora, as 12 primeiras (como é bem compreendido) são os 12 signos do zodíaco, marchando sobre as ordens do sol Napoleão, e cada um comandando uma divisão do inumerável exército das estrelas, que é chamado "exército celestial" na Bíblia, e é dividido por nós em 12 partes, correspondendo aos 12 signos do zodíaco. O mesmo para os 12 marechais que, de acordo com nossas estórias míticas, estavam em serviço ativo sobre o Imperador Napoleão; e os quatro outros são provavelmente os quatro pontos cardiais, imóveis no meio do movimento geral, que são muito bem representados pela inatividade associada com eles.
Então, todos os marechais, os ativos e inativos, são puramente entes simbólicos, e não mais reais que seu chefe.
9. É-nos dito que este líder de tantos brilhantes exércitos teve uma campanha triunfante por todas as terras do Sul, mas não pôde estabelecer a si próprio quando ele penetrou muito profundamente no Norte. Agora, tudo isto perfeitamente caracteriza o caminho do sol.
O sol, como é bem sabido, tem domínio soberano no sul, como, nós dissemos, teve o Imperador Napoleão. Mas verdadeiramente notável é que após o equinócio da primavera o sol tenta alcançar as regiões do norte movendo-se para longe do equador. Mas ao fim de três meses marchando em direção a essas terras, encontra o "tropical Borealis" que o força a retirar-se e recuar seus passos em direção ao Sul, seguindo o signo de Câncer -- isto é, o caranguejo, um signo cujo nome é dado (de acordo com Macrobius) para expressar o caminho de retirada do sol nesta área do céu. E é deste relato que pessoas inventaram a mítica expedição de Napoleão em direção ao Norte, em direção à Moscou, e a humilhante retirada que alegadamente se segue.
Então, tudo que nós dissemos sobre os sucessos e fracassos deste estranho guerreiro são somente diversas alusões com relação à trajetória solar.
10. Finalmente -- e isto não necessita explicação -- o sol nasce no Leste e se pôe no Oeste, como todos sabem. Mas para os observadores situados nos confins da terra o sol parece surgir dos mares orientais na manhã e e mergulhar nos mares ocidentais no entardecer. Então é, adicionalmente, que os poetas o retratam como levantando-se da cama e indo dormir. E é nestes termos que nós devemos entender tudo quando dissemos que Napoleão veio do mar oriental (do Egito) para reinar sobre a França e que ele desapareceu nos mares ocidentais, após um reino de 12 anos, que não é nada mais do que as 12 horas do dia durante as quais o sol brilha sobre o horizonte.
Ele reinou somente um dia, diz o autor das Nouvelles Messéniens em referência à Napoleão, e a maneira na qual ele descreve sua ascensão, seu declinío e sua queda prova que este encantador poeta, como nós, viu em Napoleão somente uma imagem do sol. E ele é nada mais do que isso, como é provado por seu nome, o nome de sua mãe, suas três irmãs, seus quatro irmãos, suas duas esposas, seu filho, seus marechais e suas façanhas. É provado pelo local de seu nascimento, pelo lugar do qual eles dizem que ele veio quando ele envolveu-se em sua carreira de dominação, pelo tempo que ele levou nisto, pelas terras que ele dominou, pelas quais ele experenciou derrota, e pela regiao onde ele desapareceu, pálido e descoroado, depois de seu caminho brilhante, como o poeta Casimir Delavigne descreve.
É portanto provado que o alegado herói de nosso século foi somente um personagem alegórico, cujas todas as características foram copiadas do sol. E consequentemente Napoleão Bonaparte, do qual pessoas têm dito e escrito muitas coisas, jamais existiu, e o erro para o qual muitas pessoas apontaram suas cabeças vem de um quiproquo -- ou seja, elas têm tomado a mitologia do século 19 por história.
P.S.: Nós poderíamos também convocar, em suporte de nossa tese, um grande número de decretos reais cujas datas são obviamente contraditórias ao reino do suposto imperador; mas nós temos tido nossas razões para não fazer uso deles.
Um comentário:
muito bom o texto e a tradução \O
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