segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma suposta "Cronologia de Invenção do Cristianismo"

Pesquisando na internet sobre assuntos que serão tema de futuras postagens deste blog, se Deus assim permitir, encontrei um texto intitulado "Cronologia da invenção do Cristianismo":
http://ateupraticante.blogspot.com/2007/06/cronologia-da-inveno-dos-cristianismo.html

A idéia deste post é elencar as outras ocorrências recentes e anteriores ao cristianismo e que contribuiram para a sua criação.

Lendo as tais ocorrências, pude notar certos erros históricos que comprometem a argumentação de "invenção" do cristianismo, e que estarei listando aqui.

400 A.C. - Platão, discípulo de Sócrates, escreve sobre o mundo das idéias (mundo espiritual onde tudo é perfeito) na "Alegoria da Caverna", no seu livro "A República".

Até aqui, tudo certo.

300 A.C. - Inspirados na obra anterior, os filósofos Cínicos da Grécia criam o conceito de que a virtude é mais importante que o prazer. Alexandre o Grande inicia suas conquistas e espalha pelo mundo antigo a filosofia grega.

Bem, mais ou menos. Os Cínicos idealizavam uma vida sem nada do que era supérfluo, ou seja, o retorno ao estado natural das coisas, sem se preocupar com reconhecimento social, bens materiais e até mesmo preocupações excessivas com saúde e alimentação. Para os Cínicos, as paixões (desejos) eram nocivos e devia-se buscar viver com o mínimo possível. Este estado de vida em que só se tem o necessário era chamado pelos cínicos de autarquia. Além de seu estilo de vida paupérrimo, viviam imersos em cosmopolitismo, i.e., recusavam as convenções e leis de seu tempo para adotar valores próprios -- por isso muitos Cínicos conviviam com pessoas malvistas pela sociedade grega antiga. [1] O mais famoso cínico foi Diógenes de Sínope, que vivia num barril, cercado de lixo, vestindo somente uma túnica e comendo usando as mãos.[2] Quando abordado por um filósofo que negava a realidade do movimento, Diógenes simplesmente começou a andar -- uma clara influência dos ensinamentos de seu mestre, Antístenes, de demonstrar a virtude não com palavras ou discursos mas com ações. [3]

Teriam os Cínicos alguma ligação com Jesus? Certos estudiosos respondem afirmativamente, sendo John Dominic Crossan o mais famoso defensor desta visão. Segundo ele,

"O Jesus histórico, era então, um Cínico Judeu do campo. [...] Sua estratégia, implicitamente para ele mesmo e explicitamente para seus seguidores, era a combinação de cura grátis e alimentação comunal, um igualitarismo religioso e econômico que negou de uma vez tanto as convenções hierárquicas e patronais da religião Judaica e [do] poder Romano." [ênfases do autor][4]

De fato, Jesus e os Cínicos tinham em comum a convivência com pessoas segregadas da sociedade, usando até mesmo de expressões similares para justificar isto:
E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento. (Marcos 2:17; estou usando o Evangelho de Marcos aqui, pois o próprio autor faz referência à ele depois)
E os Cínicos:
"O médico, sendo produtor de saúde, não exerce sua ação entre os sãos." [5]

Se, de fato, os Cínicos tiveram uma participação no cristianismo, devemos encontrar mais similaridades entre ambos além do igualitarismo. Já vimos que duas são as principais características do Cinismo: autarquia e cosmopolitismo. Será que existem evidências de que Jesus, no Evangelho de Marcos, apoiava essas duas atitudes?

Vamos voltar nossos olhos inicialmente para a autarquia. Parece ser uma ordem de desprendimento de bens materiais os seguinte textos:
[Jesus] Chamou [a si] os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, e ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho, senão [somente] um bordão; nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto; mas que calçassem alparcas e que não vestissem duas túnicas. (Marcos 6:7-9)
Isto é um conjunto de recomendações para uma viagem dos doze discípulos pelas cidades judaicas, para anunciar o Evangelho, curar enfermos e expulsar demônios (cf. vers. 12-13). Entendidas nesse contexto, essas ordens podem significar somente medidas de fazer com que a missão fosse cumprida com urgência e rapidez. [6] Bruce Griffin, um estudioso do Novo Testamento, dá outra interpretação que inviabiliza a de autarquia:

"Mas aqui há um paralelo bem melhor da Mishná Berakhoth 9.5:

Um homem não deve se comportar inadequadamente enquanto está de frente ao Portão Leste [do Templo] quando olha em direção ao Santo dos Santos. Ele não pode entrar dentro do Monte do Templo com seus servos ou sua sandália ou seu alforje, ou com terra sobre seu pé, nem ele pode fazer disto uma caminhada; tampouco ele pode cuspir aqui.

Então as instruções da missão dadas por Jesus, longe de serem derivadas de prática Cínica, podem ser lidas como uma parábola simbólica do movimento de Jesus como um novo templo. Isto explica porque os discípulos são instruídos a balançar a areia para fora de seus pés ante aqueles que rejeitam a mensagem: estes que rejeitam a mensagem estão fora do templo, enquanto aqueles que a aceitam estão dentro do templo e não podem carregar a areia dos descrentes com eles.(Marcos 6: 11; Lucas 10:11; Mateus 10:14)" [7]

E Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos. E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, [ou] irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições, e, no século futuro, a vida eterna. (Marcos 10:28-30)
Mais um indicador de autarquia? Não tão rápido. Jesus enfatiza o desapego ao conforto por amor à Ele e ao Evangelho. Ou seja, deixar todos os bens é uma prova da fidelidade do cristão, não um caminho de retidão. Algo que anula qualquer hipótese de autarquia aqui é a promessa de cem vezes mais o que foi renunciado, "já neste tempo", algo ilógico se a solução estivesse na ausência de bens como pregavam os Cínicos.

E o cosmopolitismo? Não há nada que sequer sugira tal coisa no Evangelho de Marcos. Muito pelo contrário, Jesus incentiva a obediência às autoridades terrestres, vide:
E, chegando eles, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és homem de verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas à aparência dos homens, antes, com verdade, ensinas o caminho de Deus. É lícito dar o tributo a César ou não? Daremos ou não daremos? Então, ele, conhecendo a sua hipocrisia, disse-lhes: Por que me tentais? Trazei-me [uma] moeda, para que [a] veja. E eles [lha] trouxeram. E disse-lhes: De quem é esta imagem e inscrição? E eles lhe disseram: De César. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, [pois], a César o [que é] de César e a Deus, o [que] é de Deus. E maravilharam-se dele. (Marcos 12:15-17)
Além do igualitarismo, não há mais semelhanças entre Jesus e os Cínicos. E a igualdade de todos os homens não precisa necessariamente ter uma origem Cínica, trata-se de algo que surgiu independentemente em vários tempos da história humana.

200 A.C. - Por sua vez os filósofos Estóicos defendem que a virtude, a razão e as leis naturais são o caminho para controlar as emoções e atingir a paz espiritual. Eles defendem não só as crenças, mas todo um estilo de vida ASCÉTICO. Este é o estilo de vida de quem deixa os bens materiais para se dedicar a estudar a espiritualidade.

Novamente, parcialmente correto. Os Estóicos cultivavam a virtude e uma vida cheia de moderação, não de ascetismo. Ao contrário dos cínicos, eles não visavam deixar a vida material -- muitos estóicos eram homens de posses, como Sêneca, e até mesmo um imperador, Marco Aurélio, era um deles. [8]

20 A.C. a 50 D.C. - Philon de Alexandria (ou Fílon), filósofo judeu e grego nascido no Egito, escreve sobre como o Judaísmo deveria se mesclar como a filosofia Grega, partindo do Estoicismo. Curiosamente, este homem que vivieu exatamente na mesma época que Jesus jamais menciona a existência dele. Philon demonstra como os povos antigos já discutiam as filosofias dos povos vizinhos e tentavam criar sincretismo religioso.

Tudo certo, exceto por dizer que Fílon deveria citar Jesus. Fílon nunca se ocupou de escrever história, seus livros relatavam interpretações alegóricas dos livros do Antigo Testamento, como os filósofos gregos faziam.

10 D.C. - Philon descreve os Terapeutas (Therapeutae), grupo que vivia no Egito de modo ASCÉTICO no deserto, de forma casta e simples e se consideravam os "médicos das almas". Abandonavam as posses e passavam os dias lendo as escrituras. Exatamente o estilo de vida que a Bíblia fala que Jesus tinha. Semelhante a este grupo, surgiu na Judéia o grupo dos Essênios.
O estilo de vida dos Terapeutas e dos Essênios era sem dúvidas ascético, porém não ao estilo de Jesus. Esses grupos se recolhiam em grutas isoladas, onde se dedicavam a estudar um conjunto de Escrituras (as já usadas pelos judeus e algumas exclusivas do grupo), e praticar uma rígida conduta da Lei Mosaica (alguns Essênios evitavam até urinar e defecar ao sábado, os Terapeutas eram celibatários). [9] É diferente de Jesus, que viajava por várias cidades ensinando e fazendo milagres. Este estilo de vida de Jesus se assemelha muito ao de outros judeus do século I como Hanina ben-Dosa e não aos Terapeutas ou aos Essênios. Alguns autores, como Pseudo-Dionísio, compararam os Terapeutas com os monges cristãos, não com Jesus. Mas estas descrições diferem em certos pontos da Fílon:

  • Interpretando o nome "Therapeutae", Fílon o liga ao ato de curar. Os Terapeutas estavam curando tanto o corpo como a alma ao se separar dos maus costumes existentes nas cidades. Já Pseudo-Dionísio diz que o nome significava "servidores", uma referência ao ato de que os Terapeutas se separavam para se dedicar inteiramente à Deus.

  • Fílon diz que os Terapeutas eram louváveis devido ao seu estilo de vida. Já Pseudo-Dionísio os engrandece pela sua dedicação e amor à Deus.

  • Enquanto na descrição de Fílon, os Terapeutas são totalmente separados de qualquer outra organização externa, para o Pseudo-Dionísio eles eram instituídos pela autoridades eclesiásticas cristãs.

Dessa forma, provavelmente o objetivo de ligar os Terapeutas aos monges cristãos era prover a estes uma origem antiga e confiável, não um fato historicamente verdadeiro. [10]

40 D.C - São Paulo de Tarso escreve "Epístola aos Romanos", o livro mais antigo do Novo Testamento. Ele fala de visões que ele tem do filho de Deus que é sacrificado para salvar os homens no mundo espiritual. Em nenhum momento ele menciona a existência física de Jesus. Supostamente Pedro também tinha essas visões, mas não deixou nada escrito sobre elas. Eles eram os "médiuns" da antiguidade.

Vários erros aqui. Primeiro, praticamente todos os estudiosos datam Romanos pela metade da década de 50 d.C., não em 40 d.C.; segundo, esta Epístola não é considerada o mais antigo documento do Novo Testamento, mas outras Epístolas Paulinas como 1 Tessalonicenses e Gálatas são datadas do começo da década de 50, anteriores à Romanos. Terceiro, a afirmação de que Paulo em suas Epístolas não representa Jesus como um personagem histórico e somente como um ser contemplado em visões é absurda (Isso cheira a Earl Doherty, em minha opinião o segundo maior argumentador da hipótese "Jesus Nunca Existiu".)

Vou retirar algumas citações das sete Epístolas aceitas como genuinamente Paulinas por praticamente todos os estudiosos, sejam convervadores ou liberais: Romanos; 1 e 2 Coríntios; Galátas; Filipenses; 1 Tessalonicenses e Filemon:

  • Paulo diz que Jesus havia nascido de uma mulher judia, sob a lei judaica, na família de Davi:
    mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, (Gálatas 4:4)
    acerca de seu filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, (Romanos 1:3)

  • Relata que Jesus tinha irmãos:
    Não temos nós direito de levar [conosco] uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? (1 Coríntios 9:5)
    E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor. (Gálatas 1:19)

  • Que ele tinha doze discípulos:
    e que foi visto por Cefas e depois pelos doze. (1 Coríntios 15:5)

  • Que instituiu uma ceia, e logo após foi traído:
    Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que
    é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, [tomou] o copo, dizendo: Este copo é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
    (1 Coríntios 11:23-25)

  • Que foi crucificado:
    Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; (Gálatas 3:13)
    e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. (Filipenses 2:8)

  • E fala de sua ressurreição, relatando o testemunho de outras pessoas:
    Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, (1 Coríntios 15:3-4)

Essas citações deixam bem claro que o Jesus retratado nas Epístolas de Paulo é um homem literal e não um ser fantasioso ou meramente espiritual.

41-54 D.C. - O Império Romano invade a Judéia durante o reinado de Claudio. Os Judeus ficam horrorizados com a forma que os Romanos adoram a um homem, o imperador, como um deus. Os Judeus devem ter começado a se perguntar onde estaria o "Messias" que os salvaria, prometido há tanto tempo pelo profeta Daniel. Os judeus começam a diáspora, ou seja, começam a se espalhar pelo mundo.
Os Romanos começaram a invadir a Judéia bem antes de Cláudio, por Pompeu, em 63 a.C., através de um sistema similar ao atual protetorado: foi instituído um rei que executava as ordens romanas -- no caso, Antípatro (pai do rei Herodes o Grande). A diáspora, por sua vez, se dá em 70 d.C., com a destruição de Jerusalém pelos romanos, em resposta a uma revolta judaica. Os judeus foram expulsos da Palestina e se espalharam pelo mundo. [11]

70 D.C. - Marcos escreve o primeiro Evangelho. Basicamente ele pegou as visões de Paulo e criou um personagem de vida ASCÉTICA ao qual ele chamou de Jesus Cristo, que teria vivido anos antes. Uma boa maneira de se aproveitar dos judeus que se distanciavam de sua terra natal, sempre esperaram por um salvador e estavam insatisfeitos com sua religião do deus Jeovah, que não fez nada para impedir os romanos de invadirem sua terra.
A "criação" de Jesus por Marcos tem duas condições para ser verídica, segundo o próprio texto: o retrato de um Jesus que era unicamente imaterial por Paulo; e a similaridade do estilo de vida de Jesus retratado no Evangelho aos vários grupos ascéticos descritos anteriormente. Como já vimos, ambas são falsas. Então, a "Cronologia da criação do Cristianismo" que foi avaliada aqui mostra-se, quando confrontada com dados sérios, inverídica.

Mas ainda não acabou. Há uma "parte dois" desse artigo no mesmo blog. Pretendo avaliá-la também, assim que tiver mais tempo e Deus me permitir.

[1] Mondolfo, Rodolfo. O Pensamento Antigo. São Paulo. Editora Mestre Jou. Páginas 164-171.

[2] Nicola, Ubaldo. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. São Paulo. Globo, 2005. Páginas 100-102.

[3] "E a virtude consiste em obras e não tem necessidade de muitos discursos nem muitas ciências." (Diógenes Laércio, VI, 2, 2, 70-71, apud Mondolfo, op. cit., Página 167.)

[4] "The historical Jesus was, then, a [i]peasant Jewish Cynic[/i]. [...] His strategy, implicitly for himself and explicitly for his followers, was the combination of [i]free healing and common eating[/i], a religious and economic egalitarianism that negated alike and at once the hierarchical and patronal normalcies of Jewish religion and Roman power." (John Dominic Crossan, The Historical Jesus: the Life of a Mediterranean Jewish Peasant, San Francisco: HarperCollins, 1991.)

[5] Diógenes, em Stobeo, Flor., 13, 25; apud Mondolfo, op. cit., Página 171.

[6] Braga, James. Como Estudar a Bíblia. São Paulo. Editora Vida. Páginas 108-109.

[7] "But there is an even better parallel from the Mishnah Berakoth 9.5:

A man should not behave himself unseemly while opposite the Eastern Gate [of the Temple] since it faces toward the Holy of Holies. He may not enter into the Temple Mount with his staff or his sandal or his wallet, or with the dust upon his feet, nor may he make of it a short by-path; still less may he spit there.


Thus Jesus’ mission instructions, far from being derived from Cynic practice, can be read as an enacted parable of the Jesus movement as a new temple. This explains why the disciples are instructed to shake the dust off their feet before those who reject the message: those who reject the message are outside the temple, while those who accept it are inside the temple and cannot carry the dust of unbelievers with them (Mark 6: 11; Luke 10:11; Matthew 10:14)." (http://www-oxford.op.org/allen/html/acts.htm)

[8] Nicola, op. cit., Página 111.

[9] Cabral, J. Introdução Bíblica. Rio de Janeiro: Universal, 1997. pg 294; Josefo, Antigüidades, 18, 1, 5.; Artigo da Jewish Encyclopedia "Essenes". (disponível online em http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=478&letter=E);

[10] http://www.orthodoxresearchinstitute.org/articles/patrology/scouteris_theraputae.htm

[11] Cabral, J. op cit, Página 144; Garcia, Eduardo. História da Civilização. Volume 1. São Paulo: Editora Egéria, 1978. Páginas 211 e 217; Vicentino, Cláudio. História Geral. São Paulo: Scipione, 1997. Página 42.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Napoleão nunca existiu! Sua vida é baseada na mitologia!

Este post é uma tradução de um texto escrito por James Patrick Holding, autor do site Tekton Apologetic Ministries. É uma sátira aos textos constantemente encontrados na internet que buscam "provar" que Jesus não é uma personalidade histórica, mostrando supostas similaridades entre Ele e o sol, e portanto Jesus seria apenas uma alegoria do astro celeste. Grande parte dessas similaridades são insanas, e coisas do tipo poderiam ser utilizadas para qualquer comparação, como mostra Holding, comparando Napoleão com o sol. Divirtam-se.



Como Napoleão Nunca Existiu, ou O Grande Erro, Fonte de um Infinito Número de Erros a Serem Vistos na História do Século Dezenove.

Por Monsieur J.-B.Péres, AOAM, bibliotecário da cidade de Agen



Publicado pela primeira vez em 1827

Napoleão Bonaparte, do qual muito tem sido escrito, jamais exitiu. Ele é simplesmente uma figura alegórica. Ele é uma personificação do sol, e essa asserção é obtida se nós olharmos como tudo que foi publicado sobre Napoleão o Grande é plagiado da Grande Estrela.

Vamos ver, então, em resumo, o que nos é contado sobre este homem maravilhoso.

É dito:

  • que ele era chamado Napoleão Bonaparte;

  • que ele nasceu numa ilha no Mediterrâneo;

  • que sua mãe era chamada Letitia;

  • que ele teve três irmãs e cinco irmãos, três dos quais eram reis;

  • que ele teve duas esposas, uma das quais lhe deu um filho;

  • que ele deu fim a uma grande revolução;

  • que ele teve dezesseis marechais imperiais sob seu comando, doze dos quais estavam em serviço ativo;

  • que ele venceu batalhas no sul e foi derrotado no norte;

  • que, finalmente, depois de um reino de doze anos, o qual ele iniciara com uma investida do Leste, ele foi embora e desapareceu nos mares do oeste.



Resta, então, determinar se estes detalhes diferentes são copiados do sol, e nós esperamos que qualquer um que leia este ensaio será convencido.

Para começar, todos sabem que o sol é chamado Apolo pelos poetas. Mas, não importam as circunstâncias ou causas de tal nome ter sido dado à estrela, é certo que significa "destruídor".

Agora, Apolo é a mesma palavra que Apoleão. Elas vêm de Apollyo ou Apoleo, dois verbos gregos que constituem a mesma palavra, e cujo significado é perder, matar, destruir. Então, se o alegado herói de nosso século foi chamado Apoleão, ele deveria ter o mesmo nome do sol e ele deveria, mais ainda, cumprir completamente o significado deste nome, e ele é nos apresentado como o mais destruidor dos homens que já viveram. Mas esta figura é chamada Napoleão, e então, existe uma letra inicial em seu nome que não estava presente no do sol. Sim, aqui há uma letra extra, inclusive uma sílaba, mas, seguindo a inscrição que pessoas engravam em vários locais da capital, o nome real deste suposto herói era Neapoleão ou Neapolião. Isto é o que nós vemos, notavelmente, na coluna da Vendôme Square.

Agora, esta sílaba extra não faz diferença. Esta sílaba é Grega, sem dúvida, como o restante do nome, e, em Grego, ne ou nai é uma das mais fortes palavras de afirmação, que nós podemos traduzir por "verdadeiro". Disso se segue que Napoleão significa "verdadeiro destruídor", "verdadeiro Apolo". Ele é, então, "verdadeiramente o sol".

Mas o que seu sobrenome significa? Que relação a palavra Bonaparte tem com a estrela-do-dia? Não é de todo imediatamente aparente, mas nós entendemos ao menos que, como bona parte significa "boa parte", nós estamos lidando com algo que tem duas partes, uma boa e uma má, algo que, mais ainda, é ligado com o sol Napoleão. Agora, nada é mais diretamente relacionado ao sol do que os efeitos de seu movimento diário, e estes efeitos são o dia e a noite, a luz e as trevas, a luz cuja presença ele produz e as trevas que prevalecem na sua ausência. Esta alegoria é retirada dos Persas: eles têm o império de Ahura Masda e o de Ahriman, o império da luz e das trevas, o império dos maus e dos bons espíritos. E são estes últimos, estes espíritos do mal e da escuridão, que pessoas usaram para invocar maldições com a expressão "Abi in malam partem". Se por malam partem alguém entende escuridão, não há dúvida que bona parte significa a luz -- isto é, o dia, em oposição à noite. Então não se pode duvidar que este nome tem ligações com o sol, especialmente quando alguém o vê associado com Napoleão, que é o próprio sol, como já demonstramos.

2. De acordo com a mitologia Grega, Apolo nasceu numa ilha no Mediterrâneo (a ilha de Delos); o nascimento de Napoleão também é localizado numa ilha no Mediterrâneo, e a Córsega foi escolhida em particular porque a posição da Córsega em relação à França, onde pessoas buscaram localizar seu reinado, é muito similar à posição de Delos em relação à Grécia, onde Apolo teve seus principais templos e oráculos.

Pausânias, é verdade, descreve Apolo como uma divindade Egipcia; mas, para ser uma divindade Egípcia, não foi necessário para ele nascer no Egito. É suficiente que ele foi tido como um deus ali, e é isto que Pausânias queria comunicar-nos: ele procurou nos dizer que os Egipcios o adoraram, e isto claramente estabilizou outro paralelo entre Napoleão e o sol, uma vez que é dito que no Egito Napoleão foi reputado como possuidor de uma capacidade sobrenatural, como o amigo de Muhammad, e que ele recebeu veneração ali que alcançou os níveis de adoração.

3. É dito que sua mãe foi chamada Letitia. Mas pelo nome Letitia, que significa "alegria", o amanhecer estava subentendido: a luz do dia nascente espalha alegria pela natureza. O amanhecer dá nascimento ao sol, como os poetas colocaram, por lhe abrir os portões do Leste com seus dedos rosados.

É também relembrável que, de acordo com a mitologia Grega, a mãe de Apolo era chamada Leto. Mas se os romanos fizeram "Latona" de Leto, foi preferível em nosso século fazer "Letitia" do mesmo, desde que loetitia é o nome do verbo loetor ou o fora de uso loeto, que significa "inspirar alegria".

É portanto certo que esta Letitia é encontrada, como seu filho, na mitologia Grega.

4. De acordo com o que nos é contado, este filho de Letitia teve três irmãs, e é fora de disputa que estas três irmãs são as três Graças, que, junto com a companhia das Musas, foram o ornamento e charme da côrte de seu irmão Apolo.

5. É dito que este Apolo moderno teve quatro irmãos. Agora, estes cinco irmãos são as quatro estações do ano, como iremos provar. Mas primeiro, não estaríamos surpresos de ver as estações representadas por homens ao invés de mulheres. Isto não deveria parecer pouco familiar, já que somente uma das quatro estações é feminina em Francês -- isto é, outono -- e, mais ainda, nossos gramáticos estão distantes de concordar neste ponto. Em Latim, porém, outono não é mais feminina que as outras três estações, então não há dificuldade de todo neste assunto. Os quatro irmãos de Napoleão podem representar as quatro estações do ano, e o que segue irá provar que eles realmente as representam.

Dos quatro irmãos de Napoleão, três (eles dizem) eram reis, e estes três reis eram Primavera, que reina sobre as flores, Verão, que reina sobreas colheitas, e Outono, que reina sobre as frutas. E como esteas três estações dão tudo à poderosa presença do sol, é dito que os três irmãos de Napoleão deram seu status real à ele e reinaram somente sobre sua vontade. E quando é adicionado que, dos quatro irmãos de Napoleão, existiu um que não era um rei, é porque, das quatro estações do ano, existe uma que não reina sobre nada: Inverno.

Mas se, para enfraquecer nosso paralelo, alguém disser que ao inverno não falta um império, e procurar dar a ele o triste domínio sobre tempestades e nevascas, que, em seu deprimente período empalidecem a paisagem, nossa respota iria estar na ponta da língua; isto é, nós iríamos dizer, que eles procuraram nos indicar o inútil e ridículo domínio que eles dizem este irmão de Napoleão ter sido investido após o declínio de toda sua família, o domínio que eles puseram sobre a vila de Canino em preferência a qualquer outra, porque canino vem de cani, que significa o cabelo grisalho da velha era fria, que recorda o inverno. Pois, aos olhos dos poetas, as florestas que coroam nossas montanhas são seu cabelo, e quando o inverno os cobre com sua geada, eles são o cabelo branco na velha idade do ano: Cum gelidus crescit canis in montibus humor.

Então, o alegado princípe de Canino é apenas o inverno personificado: inverno, que começa quando as agradáveis estações não existem mais e o sol está distante de nossas terras, que são invadidos pela criança apaixonada do Norte, o nome que os poetas dão aos seus ventos que, vindo destas derras, discolorem nossa paisagem e a cobre com uma brancura horrível. Isto proveu o assunto da mítica invasão da França pelos povos do norte, que se livraram de uma bandeira colorida por diferentes cores e trocaram-a por uma branca que supostamente cobria todo o país depois da partida do mítico Napoleão. Mas seria desnecessário repetir que é simplesmente um emblema das nevascas que os ventos do Norte nos trazem ao invés das cores adoráveis que o sol mantêm em nossas terras, antes de partir e levá-las de nós. É fácil ver analogias de tudo isso nas ingênuas estórias que o povo imaginou ter ocorrido em nosso século.

6. De acordo as mesmas estórias, Napoleão teve duas esposas, exatamente como pessoas designaram duas ao sol. Estas duas mulheres do sol foram a Lua e a Terra, a Lua de acordo com os Gregos (é Plutarco que atesta isto), e a Terra de acordo com os Egípcios, com esta notável diferença: de uma (a Lua) o Sol não teve filhos, e da outra ele teve um filho, um único filho: isto é, o jovem Hórus, filho de Osíris e Ísis, do Sol e da Terra, como se vê na Estória do Céu, capítulo 1 página 61 e seguintes. Ali há uma alegoria Egípcia na qual Hórus, nascido da fértil terra ao Sol, representa os frutos da agricultura; e pessoas colocaram o nascimento do suposto filho de Napoleão em 20 de Março, o equinócio de primavera, porque é na primavera que a produção da agricultura aumenta excepcionalmente.

7. Eles dizem que Napoleão pôs fim a uma praga devastadora que aterrorizou a França, e que era chamada a Hydra da Revolução. Agora, uma hydra é uma serpente -- a espécie não é importante, especialmente porque nós estamos lidando com uma estória. Era a serpente Python, um enorme réptil que era o objeto de medo extremo para a Grécia, que Apolo derrubou, matando o monstro, que era sua primeira façanha. E é por isso que Napoleão iniciou seu reino por matar a revolução Francesa, que exatamente tão quimérica como todas as outras coisas, pois nós vemos claramente que "revolução" é derivada da palavra Latina revolutus, que significa uma serpente que é enroscada em algo -- Python, e nada mais.

8. O famoso guerreiro do século 19 teve, eles dizem, 12 marechais imperiais na chefia de suas armadas e 4 inativas. Agora, as 12 primeiras (como é bem compreendido) são os 12 signos do zodíaco, marchando sobre as ordens do sol Napoleão, e cada um comandando uma divisão do inumerável exército das estrelas, que é chamado "exército celestial" na Bíblia, e é dividido por nós em 12 partes, correspondendo aos 12 signos do zodíaco. O mesmo para os 12 marechais que, de acordo com nossas estórias míticas, estavam em serviço ativo sobre o Imperador Napoleão; e os quatro outros são provavelmente os quatro pontos cardiais, imóveis no meio do movimento geral, que são muito bem representados pela inatividade associada com eles.

Então, todos os marechais, os ativos e inativos, são puramente entes simbólicos, e não mais reais que seu chefe.

9. É-nos dito que este líder de tantos brilhantes exércitos teve uma campanha triunfante por todas as terras do Sul, mas não pôde estabelecer a si próprio quando ele penetrou muito profundamente no Norte. Agora, tudo isto perfeitamente caracteriza o caminho do sol.

O sol, como é bem sabido, tem domínio soberano no sul, como, nós dissemos, teve o Imperador Napoleão. Mas verdadeiramente notável é que após o equinócio da primavera o sol tenta alcançar as regiões do norte movendo-se para longe do equador. Mas ao fim de três meses marchando em direção a essas terras, encontra o "tropical Borealis" que o força a retirar-se e recuar seus passos em direção ao Sul, seguindo o signo de Câncer -- isto é, o caranguejo, um signo cujo nome é dado (de acordo com Macrobius) para expressar o caminho de retirada do sol nesta área do céu. E é deste relato que pessoas inventaram a mítica expedição de Napoleão em direção ao Norte, em direção à Moscou, e a humilhante retirada que alegadamente se segue.

Então, tudo que nós dissemos sobre os sucessos e fracassos deste estranho guerreiro são somente diversas alusões com relação à trajetória solar.

10. Finalmente -- e isto não necessita explicação -- o sol nasce no Leste e se pôe no Oeste, como todos sabem. Mas para os observadores situados nos confins da terra o sol parece surgir dos mares orientais na manhã e e mergulhar nos mares ocidentais no entardecer. Então é, adicionalmente, que os poetas o retratam como levantando-se da cama e indo dormir. E é nestes termos que nós devemos entender tudo quando dissemos que Napoleão veio do mar oriental (do Egito) para reinar sobre a França e que ele desapareceu nos mares ocidentais, após um reino de 12 anos, que não é nada mais do que as 12 horas do dia durante as quais o sol brilha sobre o horizonte.

Ele reinou somente um dia, diz o autor das Nouvelles Messéniens em referência à Napoleão, e a maneira na qual ele descreve sua ascensão, seu declinío e sua queda prova que este encantador poeta, como nós, viu em Napoleão somente uma imagem do sol. E ele é nada mais do que isso, como é provado por seu nome, o nome de sua mãe, suas três irmãs, seus quatro irmãos, suas duas esposas, seu filho, seus marechais e suas façanhas. É provado pelo local de seu nascimento, pelo lugar do qual eles dizem que ele veio quando ele envolveu-se em sua carreira de dominação, pelo tempo que ele levou nisto, pelas terras que ele dominou, pelas quais ele experenciou derrota, e pela regiao onde ele desapareceu, pálido e descoroado, depois de seu caminho brilhante, como o poeta Casimir Delavigne descreve.

É portanto provado que o alegado herói de nosso século foi somente um personagem alegórico, cujas todas as características foram copiadas do sol. E consequentemente Napoleão Bonaparte, do qual pessoas têm dito e escrito muitas coisas, jamais existiu, e o erro para o qual muitas pessoas apontaram suas cabeças vem de um quiproquo -- ou seja, elas têm tomado a mitologia do século 19 por história.

P.S.: Nós poderíamos também convocar, em suporte de nossa tese, um grande número de decretos reais cujas datas são obviamente contraditórias ao reino do suposto imperador; mas nós temos tido nossas razões para não fazer uso deles.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

As Testemunhas de Yehôshua

As Testemunhas de Yehôshua são um grupo religioso fundado por Josué Breves Paulino, no início da década de 90. Embora pouco conhecidos no Brasil, conseguem fazer grande barulho na cidade onde está concentrada a sua sede e na Internet (meio pelo qual vim a conhecê-los).

Eles afirmam que todas as igrejas atuais se apostataram e que eles são os únicos com a mensagem verdadeiramente divina. Esta apostasia teria sido supostamente revelada ao seu fundador, e consistiria numa inserção posterior do nome Jesus na Bíblia. Para eles, este nome seria de origem pagã, e que uma série de blasfêmias teria oculto em si. O “nome original” do Filho de Deus seria Yehôshua, segundo eles o nome em hebraico, o qual teria sido substituído por Jesus, portanto o primeiro deveria ser usado no lugar deste último. Este também seria o nome do Pai, já que o Messias (a partir de agora me referirei à Jesus desta forma, devido a controvérsia sobre seu nome) disse que veio “dar a conhecer” o nome do Pai (João 17:26), assim o nome Yehôshua seria também a pronúncia correta do Tetragrama YHWH (ver adiante explicação em “A pronúncia do Tetragrama YHWH”). Isso os faz unicistas, crendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só pessoa. Desta forma, o único batismo válido seria no nome de Yehôshua, assim como a oração, exorcismo, etc. Vide o que se lê na página principal do movimento:

O Nome de Yehôshua é de origem divina, veio do Céu, pois foi anunciado pelo Anjo (Mat. 1:21; João 4:22; Atos 4:12; Atos 26:14-15), e, significa: “Deus Salvador” (heb. “Yeho” = abreviação de YHWH, o Nome de Deus. + o sufixo heb. “shua” = Salvação).

O nome de Jesus é de origem pagã, pois se originou em Roma [...] Por isso, devemos invocar para a nossa Salvação o Nome que vem dos Judeus: Yehôshua haMashiach!

Para dar firmeza a essa visão, são apresentados uma série de argumentos. Eles podem ser encontrados no site do movimento (http://www.testemunhasdeyehoshua.org.br/), em livros escritos por Josué Breves Paulino (ex.: Sai dela, Povo Meu; A Verdade e o Mito) e através de uma prática desleal feita pelas Testemunhas de Yehôshua. Eles se reúnem em grupo, vão até uma igreja, e lá durante a pregação, perguntam ao pregador acerca dos nomes Yehôshua e Jesus. Como pouquíssimas pessoas tem conhecimento de hebraico, a maioria das vezes não há resposta e então as Testemunhas de Yehôshua começam a fazer algazarra no meio do culto. Algo no mínimo traiçoeiro. Farei uma análise desses argumentos aqui, retirados do site das Testemunhas de Yehôshua. Passemos a ela. Os argumentos das TYs, ipsis literis, estarão em azul.


“Nome próprio não se traduz”

Toda a argumentação começa na alegação de que nomes próprios não são traduzidos, somente transliterados (a transliteração é a transferência de sons para outra língua, modificando os caracteres para visar uma pronúncia similar a da língua original). Isto daria base para que nos preocupássemos com a pronúncia do nome do Messias na língua que ele era falante.

Faço um veemente desafio, geral e irrestrito, à todos os “sábios” e eruditos, no sentido de apresentarem provas convincentes de que estou errado; porque é fato indiscutível, que nomes próprios não se traduz, apenas translitera. Convém salientar que transliteração não é a mesma coisa que tradução. Na tradução não se preocupa com a palavra em si, mas com o sentido desta. A transliteração, no entanto, procura encontrar LETRAS que tenham o mesmo SOM e manter a semelhança da palavra original.

Realmente nomes próprios não são traduzidos, mas sua pronúncia é adaptada para cada língua. Em nomes impróprios, é conveniente se traduzir o significado para se transmitir a mensagem, mas como os nomes próprios buscam se referir a algo/alguém, o significado da palavra não dirá muita coisa (até porque alguns nomes próprios sequer tem significado). Como cada língua tem seus próprios fonemas, que adquiriu ao longo de sua formação, ao pronunciar palavras de outras línguas, sempre haverá uma certa dificuldade nessa pronúncia. Conforme as línguas foram se formando, a partir da evolução de outras línguas, fonemas foram sendo adicionados, retirados e modificados, gerando pequenas diferenças entre essas línguas (por exemplo, o português, espanhol, francês e italiano, que se originaram do latim). Entre línguas que tem origens mais distantes (como o inglês e o português), as diferenças entre os fonemas são bem maiores. Desta forma, um mesmo nome próprio, pronunciado em diferentes línguas, sofrerá modificações. Isto não é uma corrupção ou adulteração do nome, mas um processo natural na formação de novas línguas, em que cada uma delas vai adquirindo suas particularidades. Mesmo línguas que não tem conexão qualquer entre si (como entre asiáticas e européias), quando forem pronunciar os nomes das línguas que acabaram de conhecer, inconscientemente os adaptarão à sua língua-mãe. Como exemplo de como isso acontece irei dar alguns exemplos de nomes próprios. Vou começar com o nome de nosso país, Brasil.

Português

Brasil

Espanhol

Brasil (pronunciando o “s” como s mesmo, não como “z”)

Inglês

Brazil (pronunciando “Breizil”)

Francês

Brésil

Alemão

Brasilien

Italiano

Brasile

Japonês

Burashiru ou Burajiru


É fácil notar que o nome adquiriu uma elasticidade que crescia conforme mais distante era a língua. Também se pode ver que um nome próprio em outra língua pode ter duas versões, é o caso do japonês (que tem os fonemas mais singulares e, em minha opinião, mais belos). Vou usar agora outro exemplo: o nome César.

Português

César

Espanhol

César

Inglês

Caesar

Alemão

Kaiser

Italiano

Caesare

Russo

Czar


E por último, o nome “Alexandre”.

Português

Alexandre

Espanhol

Alejandro (lê-se “Alerrandro”)

Inglês

Alexander

Alemão

Alexander

Italiano

Alessandro

Japonês

Areshandore

Acho que a essa altura, ninguém vai duvidar que existe, sim, tradução de nomes próprios.

Depois, passa-se para a alegação de que o nome do Messias na sua língua materna seria “Yehôshua”, de onde se deriva o nome do movimento.


Que Nome foi dado pelo Anjo ao Salvador, quando Ele nasceu em Belém? – Buscai as Veredas Antigas, ou seja, buscai o original hebraico. Na Bíblia de Jerusalém, em Mat. 1:21, na nota marginal, ao rodapé da página, trás o seguinte comentário dos tradutores: “Jesus: hebraico Yehôshua”. Sabemos que no hebraico, o Nome Yehôshua significa o Nome que Salva. [...] A Verdade está lá no original hebraico! – Yehôshua é o Nome Original!

Na verdade, o Messias não recebeu o nome de “Yehôshua”. Oséias, filho de Nun recebeu, através de Moisés, o nome יהושע. A transliteração disto não poderia ser “Yehôshua” mas sim “Yehoshúa”, pois no hebraico, a tonicidade das sílabas cai ou na última ou na penúltima sílaba. Portanto, temos “Yehoshúa” ou “Yehoshuá”. Como entre duas vogais curtas a primeira é a tônica, chegamos a conclusão de que a pronúncia correta de יהושע só pode ser “Yehoshúa”, nunca “Yehôshua”. Yehoshúa foi usado até os tempos do cativeiro babilônico, quando o povo judeu deixou de falar hebraico no dia-a-dia e passou a falar aramaico. A partir de então, o nome Yehoshúa, יהושע, passou a ser ישוע, Yeshua. No século I de nossa era, na Palestina se falava aramaico, portanto, Maria, Jesus e os apóstolos falavam aramaico. É improvável que o anjo Gabriel tenha anunciado para Maria um nome diferente de sua língua materna, de tal forma que concluímos que o nome deveria estar no aramaico – i.e., ישוע, Yeshua.


A pronúncia do Tetragrama YHWH (יהוה)

Para quem é leigo em hebraico, o Tetragrama é o nome de Deus em hebraico, formado por quatro letras: יהוה. Essas quatro letras correspondem em caracteres europeus a YHWH. Como os judeus consideravam (e consideram, até hoje) blasfêmia pronunciar esse nome, com o tempo a pronúncia correta dele foi sendo perdida, e hoje é totalmente desconhecida. As Testemunhas de Yehôshua apresentam uma série de argumentos para sustentar que o nome Yehôshua seria a pronúncia do Tetragrama YHWH. Assim, quem pronuncia o nome Yehôshua, não está somente dizendo o nome correto do Filho, mas também do Pai. Vejamos esses argumentos:


Deus revelou a Moshê o Seu glorioso Nome YEHOSHUA e disse: “Esse é o meu NOME para sempre”. [...] Osheia, filho de Num introduziria o povo na terra prometida, e por isso, ele prefigurava o haMashiach. Simbolicamente, ele era o “Anjo do Altíssimo”. E, para que ele verdadeiramente representasse o haMashiach, Moshê, por inspiração divina, deu a ele O NOME que está acima de todo nome: YEHOSHUA.

O anjo descrito em Êxodo 23:20-23 não pode ser Josué, pois no versículo 23, é dito que esse anjo permaneceria até a destruição dos seguintes povos: amorreus, heteus, ferezeus, cananeus, heveus e jebuseus. Ora, os ferezeus e jebuseus só foram vencidos depois da morte de Josué: os ferezeus no tempo dos juízes (Juízes 1:4-7) e os jebuseus no reinado de Davi (2 Samuel 5:6-7; 1 Crônicas 11:4-7). Além disso, a declaração “o meu nome está nele” não significa que este seria o nome de Deus, i.e., a pronúncia correta do Tetragrama יהוה (YHWH). Deus afirma que seu nome estava sobre o templo (2 Crônicas 7:16; 33:7), sobre Jerusalém (1 Reis 11:36; 14:21; 2 Crônicas 6:6; 33:4), sobre o povo de Israel (Números 6:27; 2 Crônicas 7:14; Isaías 43:7; Jeremias 7:10-12,30; Daniel 9:19) e nenhuma dessas é considerada como sendo pronúncia do Tetragrama por ninguém...

Oferecem também uma relação entre dois textos: Mt 1:20 e Jr 23:6.

Vejamos o que diz o profeta Jeremias; “Eis que vêm dias, diz YHWH, que suscitarei a David um renovo justo... e este é o nome pelo qual o nomearão: YHWH Justiça Nossa” (Jer. 23:5-6). O profeta anunciou sem nenhuma dúvida que o Mashiah receberia o mesmo nome do pai YHWH e o anjo vocalizou YEHOSHUA. [...] Fazendo a devida referência de Jer. 23:6 com Mat. 1:21, fica claro que Yehoshua é a pronuncia do tetragrama YHWH...

Uma análise do texto do profeta Jeremias nos mostra que uma correspondência dele com o de Mateus é errônea. Vamos colocar o texto de Jeremias em seu devido contexto:

Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, [sendo] rei, reinará e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na terra.

Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro: e este será o seu nome, com que o nomearão: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA. (Jeremias 23:6)

A passagem se refere ao tempo em que o Messias reina sobre a terra. Esta profecia se cumpriu quando da Primeira Vinda de Jesus? Não! Ela se cumprirá quando ele retornar do céu, para instalar o Reino Milenar. É impossível, portanto, ligar as duas passagens, para exigir que o nome do Messias seja uma pronúncia do Tetragrama. Ainda outra dificuldade surge: unida ao Tetragrama, está a palavra צִדְקֵנוּ (Tzidkenu) que significa “Nossa Justiça”. O nome com o que o Messias seria nomeado seria YHWH Tsidkenu. A palavra Tsidkenu não pode ser encaixada em Yehoshua. Isto encerra o assunto: não há qualquer passagem bíblica que se refira ao nome do Messias ser a pronúncia exata do Tetragrama.

Mas o que realmente faz essa doutrina degringolar é a gramática hebraica. Para quem é completamente leigo em hebraico, cabe aqui uma pequena explicação. O alfabeto hebraico não tem vogais, somente consoantes. As vogais eram inicialmente pronunciadas conforme o contexto, e mais tarde foi criada uma série de pontos, chamados massoréticos, que se colocavam sobre, abaixo e debaixo das letras, para indicar as vogais. A vocalização de uma palavra acaba sendo na verdade uma vogalização, já que o Tetragrama não é pronunciado pelos judeus desde muito antes da criação dos sinais massoréticos, não sabemos as vogais para inserir. À primeira vista o Tetragrama realmente parece bater com o nome “Yehoshua”, vejamos:

Yehoshua, na verdade Yehowshua: YeHoWsHua

Existem três problemas aí. Primeiro, como já dissemos, na vocalização se inserem vogais, portanto, não se inserem novas letras. O Tetragrama em caracteres hebraicos é יהוה, já o nome “Yehoshua” é יהושע. A última letra do Tetragrama, um ה, é trocada por um שע. (o hebraico se lê da direita para a esquerda). O segundo, é que o último H ali não existe, pois o sh no hebraico é uma letra só, shin. יהושע não possui o último ה do Tetragrama e tem o שע que não está no Tetragrama. Terceiro, o Tetragrama termina com um hê (ה), esse som é muito diferente do ayin (ע), este se assemelha a um “r” bem fraco. Um hê nunca poderia ser vocalizado na forma de um ayin, ou vice-versa. Foneticamente, o Tetragrama יהוה e o nome יהושע não tem relação alguma, um não cabe dentro do outro!

Essas objeções já foram levantadas, e as Testemunhas de Yehôshua apresentam em sua defesa o seguinte argumento:

[...] letras hebraicas ayne e shin que aparece no nome Yehoshua e não aparece no tetragrama original YHWH. Porém, o que ele ignora é que “no princípio era o VERBO (YHWH)”, depois, o verbo se fez carne e assumiu a natureza humana, tornando-se mediador entre Deus (YHWH) e o homem (Shin).

Embora esse texto seja meio confuso, eu creio que esteja se referindo à palavra hebraica ish, que significa homem. Como Deus se tornou carne, torna-se necessário a introdução de um sh (ש) no Tetragrama. Isso complica tudo ainda mais. Primeiro, a palavra ish se escreve em caracteres hebraicos אִישׁ , e então devemos perguntar: o que acontece com as duas outras letras que iniciam a palavra? Segundo, o que ocorre com a letra ayin (ע) que existe no final de Yehoshua? Ela não está presente nem na palavra ish, nem no Tetragrama.


Profecias acerca da mudança do nome do Messias

Notem que segundo a profecia, seria tirado o Mashiah e NÃO SERÁ MAIS o seu nome seria apagado (Daniel 9:26-27; Jeremias 11:19; II Tessalonicenses 2:4-7).

Vamos dar uma olhada nesses três textos, tidos como profecias da mudança do nome do Messias. Primeiro, Daniel 9:26:

E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias, e não será mais: e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra: estão determinadas assolações.

Refere-se à morte do Messias, e à destruição de Jerusalém (ocorrida em 70 d.C.). Nem toca no assunto “nome”.

Agora, Jeremias 11:19:

E eu [era] como um manso cordeiro, que levam à matança; porque não sabia que imaginavam projetos contra mim, [dizendo]: Destruamos a árvore com o seu fruto, e cortemo-lo da terra dos viventes, e não haja mais memória do seu nome.

De fato, parece realmente se referir a uma mudança do nome do Messias, com o “não haja mais memória do seu nome”, certo? Não tão rápido. Vamos dar uma olhada nos versículos que antecedem e sucedem essa passagem:

E o SENHOR mo fez saber, e eu o soube: então me fizeste ver as suas ações.

E eu [era] como um manso cordeiro, que levam à matança; porque não sabia que imaginavam projetos contra mim, [dizendo]: Destruamos a árvore com o seu fruto, e cortemo-lo da terra dos viventes, e não haja mais memória do seu nome.

Mas, ó SENHOR dos Exércitos, justo Juiz, que provas os rins e o coração, veja eu a tua vingança sobre eles; pois a ti descobri a minha causa.

Portanto assim diz o SENHOR acerca dos homens de Anatote, que procuram a tua morte, dizendo: Não profetizes no nome do SENHOR, para que não morras às nossas mãos.

Sim, assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eis que eu os punirei: os mancebos morrerão à espada, os seus filhos e as suas filhas morrerão de fome. (Jeremias 11:18-22)

Tudo parece indicar que o versículo se refira ao próprio Jeremias, não ao Messias, afinal, Anatote era sua cidade natal (Jeremias 1:1), foi Jeremias que soube “suas ações”, e tudo partia de pessoas que o ameaçavam de morte por estar profetizando. Isso é reforçado no capítulo seguinte:

Porque até os teus irmãos, e a casa de teu pai eles próprios se hão deslealmente contigo; eles mesmos clamam após ti em altas [vozes]: Não te fies neles ainda que te digam cousas boas. (Jeremias 12:6)

Deus afirma que até os familiares de Jeremias ingressaram nessa conspiração. O texto indicado se refere ao profeta Jeremias, não ao Messias, não servindo como suposta “profecia” para indicar a mudança de nome deste.

E por último, 2 Tessalonicenses 2:4-7:

o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora; assim que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.

Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?

E, agora, vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.

Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado;

Se alude à referência de que “se levanta contra tudo o que se chama Deus”, para dizer que o nome do Messias seria desfigurado, no caso, por Roma, de quem o texto estaria falando. Porém, o versículo 3 indica estar se falando de um homem, que tomaria o lugar de Deus, querendo ser adorado:

Ninguém, de maneira alguma, vos engane, porque [não será assim] sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, (2 Tessalonicenses 2:3)

Não se trata de um sistema religioso ou político, mas de uma pessoa literal. Será que alguém que mudou o nome do Messias e queria ser adorado no lugar dele pode ser localizado na história? Não. Por isso a escatologia localiza esse homem no fim dos tempos, como um líder político que se levantará sobre o mundo, recebendo adoração e perseguindo o cristianismo, o chamado “Anti-Cristo”. Nada a ver com o nome Jesus, ou Yehôshua, Yeshua, etc.


“A confissão de Jerônimo”

Para situar a mudança do nome do Messias historicamente, o seguinte texto, atribuído a Jerônimo (tradutor da Bíblia para o latim, sendo autor da Vulgata Latina, principal texto em latim até hoje), como uma carta ao Papa Dâmaso I:

"Obrigas-me fazer de uma Obra antiga uma nova... da parte de quem deve por todos ser julgado, julgar ele mesmo os outros, querer mudar a língua de um velho e conduzir à infância o mundo já envelhecido. Qual, de fato, o douto e mesmo o indouto que, desde que tiver nas mãos um exemplar, depois de o haver percorrido apenas uma vez, vendo que se acha em desacordo com o que está habituado a ler, não se ponha imediatamente a clamar que eu sou um sacrílego, um falsário, porque terei tido a audácia de acrescentar, substituir, corrigir alguma coisa nos antigos livros? (Meclamitans esse sacrilegum qui audeam aliquid in verteribus libris addere, mutare, corrigere). Um duplo motivo me consola desta acusação. O primeiro é que vós, que sois o soberano pontífice, me ordenais que o faça; o segundo é que a verdade não poderia existir em coisas que divergem, mesmo quando tivessem elas por si a aprovação dos maus". (Obras de São Jerônimo, edição dos Beneditinos, 1693, t. It. Col. 1425).

E em outro ponto:

Notemos atentamente que o próprio Jerônimo é um “Réu Confesso”; pois ele mesmo reconhece que na Vulgata Latina, ele teve a audácia de: “... acrescentar, substituir e corrigir o texto sagrado dos Antigos Livros...”

Isto é, na minha singela opinião, o argumento mais confuso das Testemunhas de Yehôshua. Esse texto de Jerônimo é apresentado fora de seu contexto, a referência é somente uma certa “Obras de São Jerônimo” – nada de editora, ou ainda a página onde se encontra essa tal carta. Pesquisando, consegui lançar certa luz sobre o assunto: esse texto é uma carta aberta de Jerônimo a Dâmaso, que serve como prefácio aos quatro Evangelhos, chamada Novum opus (Nova obra). Ela pode ser encontrada online em http://www.tertullian.org/fathers/jerome_preface_gospels.htm (em inglês). Irei traduzir aqui os dois primeiros parágrafos, que falam da tal “mudança”.

Para o abençoado Papa Dâmaso, por Jerônimo,

Você tenta me convencer a fazer um novo trabalho do velho, e que eu devo me assentar como um tipo de juiz sobre as versões da Escritura dispersas por todo mundo, e que eu devo resolver quais entre elas tem alguma variação, e quais delas podem concordar com o Grego. Um trabalho piedoso, porém uma presunção perigosa, de mudar a antiga e envelhecida linguagem do mundo, e levá-la de volta à infância, visto que julgar os outros é pedir julgamento de todos eles. Sem dúvida qualquer homem letrado ou ignorante, quando pegar o volume em suas mãos, e dar uma simples olhada nele, e ver que o que ele leu está diferente, não irá imediatamente levantar sua voz, me chamando de falsário, dizendo que sou um homem sacrílego, que como pude adicionar, mudar, ou corrigir algo nos livros sagrados? Contra tal infâmia eu sou consolado por duas causas: que é você, o sumo sacerdote, quem ordena isso, e a verdade não é o que pode variar, ainda que agora eu esteja justificado pelo testemunho de caluniadores. Se realmente a fé é administrada pela versão Latina, eles devem responder por qual, pois para eles há inúmeras! Se, porém, a verdadeira é uma encontrada entre muitas, por que agora não retornamos aos originais Gregos para corrigir esses erros que ou foram introduzidos através de tradutores ímpios, ou através daqueles que eram de confiança porém pouco competentes e revisaram erroneamente, ou através de escribas sonolentos que de alguma forma mudaram ou adicionaram algo? Certamente, eu não discuto o Velho Testamento, que veio dos Setenta Sábios na linguagem Grega, mudando em três passos [Hebraico-Grego-Latim] até chegar até nós. Eu não vejo que Áquila, ou que Símaco poderiam crer, ou porque Teodocião andaria no meio do caminho entre o novo e o velho. Esta pode ser a verdadeira versão que os Apóstolos aprovaram. Eu falarei agora do Novo Testamento, o qual é sem dúvida Grego, exceto pelo Apóstolo Mateus, o qual primeiro escreveu o Evangelho de Cristo em letras Hebraicas na Judéia. Este (Testamento) certamente tem diferenças em nossa linguagem, a qual utilizou diferentes fontes; e é necessário encontrar a única fonte principal. Eu passo adiante esses livros que são chamados pelo nome de Luciano e Hesíquio, aos quais alguns homens erroneamente reivindicam autoridade, os quais de forma alguma estavam autorizados a revisar qualquer coisa no Velho Instrumento após os Setenta Tradutores, ou inserir revisões no Novo; com as Escrituras anteriormente traduzidas na linguagem de muitas nações, as adições agora podem ser provadas falsas.

Portanto, este pequeno prefácio precede somente os quatro Evangelhos, cuja ordem é Mateus, Marcos, Lucas e João, revisados em comparação somente com os antigos livros Gregos. Eles não discordam com muitas traduções populares no Latim, já que mantivemos nossa caneta em controle, mas somente aquelas que se percebe que houve alterações (do Grego) foram corrigidas; o restante permanece como era.

Uma simples lida na carta devidamente contextualizada desfaz a especulação de falsificação que Jerônimo teria feito. Ele chama as acusações de falsificação de “infâmia”, então obviamente não as aceitava. Ele explica então que era necessário fazer uma nova tradução das Escrituras em latim (a “Nova obra” que é título da carta), pois existiam muitas versões da mesma, que geravam esta falsa impressão de que era ele quem tinha adulterado os Santos Livros, e que surgiram através da introdução de erros no texto ao longo do trabalho de vários copistas. Para quem é leigo acerca do sistema de transmissão de documentos na Antigüidade, aqui vai uma pequena explicação. A imprensa é uma invenção recente, do século XV, e antes dela, os livros eram copiados a mão, por escribas especialmente preparados para isso, os chamados copistas. Porém muitas vezes esses copistas acabavam cometendo erros em copiar os manuscritos, acidentalmente, e assim o texto acabava adquirindo diferenças em relação ao original. Certas vezes, essas diferenças eram introduzidas intencionalmente, com o objetivo de aprovar falsas doutrinas. Então Jerônimo sugere revisar todas as versões do Novo Testamento segundo os originais (i.e., os mais antigos manuscritos existentes) para “provar as adições falsas”. Ele não está admitindo que fez inserções na Bíblia -- muito pelo contrário, ele está dizendo que buscava retirar as adulterações que haviam sido feitas, vide que “(e)ste (Testamento) certamente tem diferenças em nossa linguagem, a qual utilizou diferentes fontes; e é necessário encontrar a única fonte principal”. Isto está explícito também no parágrafo seguinte, onde ele diz que “somente aquelas [passagens] que se percebe que houve alterações (do Grego) foram corrigidas; o restante permanece como era”.


Deuses pagãos

Para inviabilizar a utilização do nome Jesus como algo extra-bíblico, são mostradas vários esquemas pelos quais o nome Jesus é ligado a nomes de deuses pagãos. Assim, quando alguém invocasse “Jesus”, estaria na verdade invocando entidades malignas que estavam por trás desses deuses. Vamos analisar esses argumentos.

1. O nome de Jesus é de origem pagã, pois se originou em Roma, e, significa: “Deus Cavalo”, ou Besta (heb. “Ie” = abreviação de YHWH, o Nome de Deus. + o sufixo heb. “Sus” = Cavalo). E, cavalo é igual a BESTA. Portanto, todo aquele que adora a Jesus, inconscientemente está adorando a BESTA.

Esse argumento perde um pouco de sua força quando sabemos que na versão grega das Escrituras, traduzidas por Áquila, é utilizado Ιησουα, “Iesua”, que não apresenta o “sus”. Como já mostrei anteriormente, é perfeitamente comum que um nome quando vai para outra língua tome mais de uma forma. E no português arcaico muitas vezes Jesus era referido como “Jesu”, que é a forma do nome Ιησους no vocativo (forma de um substantivo usada quando nos direcionamos a ele), Ιησου, sem o “sus”. Como nesse trecho do poema épico os Lusíadas, de Luís de Camões:

Em nome de Jesu crucificado (Os Lusíadas X-108-8)

Porém, o problema principal com essa alegação é que o nome Jesus é uma tradução para o grego de Ιησους (translit. Iesus). Estando no grego, não se pode buscar nele um significado em hebraico, uma palavra hebraica não pode ter significado dentro de um nome utilizado no grego, pois as duas línguas não tem um desenvolvimento em comum (não derivam de uma mesma língua, como o português e o espanhol, nem trocaram palavras entre si, como ocorreu no grego e no latim). O certo é buscar significado grego em palavras gregas. Cavalo em grego se diz hippos, não “sus”. Já cientes desse fato, as Testemunhas de Yehôshua apresentam a seguinte alegação:

Não me interessa se cavalo em grego é hyppos; porém, o que nos interessa é que, JESUS é nome grego, o qual, no hebraico significa deus cavalo. Isso não é estranho?

Então para alcançarmos o “sus=cavalo” em Jesus, o nome precisa estar no hebraico... Será que esse “estar em hebraico” se refere à adaptação do nome? Creio que não, pois a adaptação de Ιησους para o hebraico é Yeshúa (como mostrarei adiante), ademais, as Testemunhas de Yehôshua dizem que essa adaptação não existe. Portanto, só podem estar se referindo a uma transliteração do nome. O “sus” do nome Ιησους é escrito “σους”. Transliterando para o hebraico, chegamos a סווס(suus), que tem um vau (ו) a mais do que סוס (sus), o famigerado “cavalo” em hebraico. Portanto, lingüisticamente, não há correspondência entre o “sus” de Jesus e o “sus” que é o hebraico para “cavalo”.

2. Vejamos a assustadora Matemática:

I E S V S C R I S T V S F I L I I D E I

1 + 5 + 100 + 1 + 5 + 1+50+2 + 500 + 1 = 666

A frase “IESVS CRISTVS FILII DEI” não é encontrada em local algum da Vulgata (a Bíblia traduzida para o latim). O mais próximo que encontramos está em Marcos 1:1, onde vemos a frase “IESVS CRISTII FILII DEI”, cuja soma em caracteres romanos alcança 662 e não 666.

3. ESUS, o maior deus mitológico dos Celtas aparece segurando em suas mãos serpentes com cabeça de carneiro, não é isso significativo?

Esse é o argumento que mais pode causar confusão, pois o deus Esus é pouquíssimo conhecido. Isto ocorre porque as referências arqueológicas e literárias que temos sobre ele são escassas: somente 6, sendo metade literárias e metade arqueológicas. Para completar, nenhuma delas nos revela muito. Vejamo-as:

  1. Uma referência do poeta romano Lucano, do primeiro século, lista Esus entre deuses dos celtas que recebiam sacrifícios humanos. Esus é destacado, particularmente, como tendo “altares horrendos”.
  2. Um comentário deste mesmo poema acima, escrito por volta do nono século, explica que as vítimas sacrificadas à Esus eram suspensas em árvores, e assimila o deus celta com Marte.
  3. Um livro de medicina do século IV, escrito por Marcellus de Boudeaux, contém uma fórmula mágica em que é invocado um certo Aesus.
  4. Um monumento encontrado em Pfalsbourg, Alemanha, traz uma dedicação ao deus Mercúrio, onde ele recebe o título de “Esus”.
  5. Um pilar encontrado em Paris, França, (Pilar dos Marinheiros), onde Esus aparece retratado como um homem musculoso, cortando uma árvore sobre qual estão a cabeça de um touro e três grous.
  6. O nome “Esus” aparece numa moeda encontrada na Inglaterra.

O que essas evidências podem nos dizer sobre uma possível relação entre Jesus e Esus? Para começar, o nome Esus é céltico, parecendo derivar da raiz -eis, que significa “poder”, indicando que a palavra seria mais um título que um nome próprio. Isto parece ser reforçado pela inscrição que coloca Esus como sendo um título de Mercúrio. Ademais, Esus não é somente um nome como um deus celta – não existem evidências de sua adoração entre os romanos. Todas as inscrições dedicadas a Esus foram encontradas no norte da Europa, e até mesmo nomes de pessoas fazendo referências à divindade são encontradas somente lá, como Esunertos (“força de Esus”). As únicas referências romanas a Esus o retratam como um deus que recebia sacrifícios humanos e por isso considerado “horrendo”. Daí nascem as dificuldades de associar Esus como uma tentativa greco-romana de substituir o nome de Jesus. Como os romanos usariam para esse fim um deus a que não prestavam a mínima adoração, muito pelo contrário, abominavam? Esta aversão a Esus inviabiliza o uso de seu nome pelos romanos. Por último, temos que lembrar que o nome Esus apresenta a variação Aisus, que se distancia consideravelmente do nome Jesus.

Existe também uma objeção, não expressa no site, do nome Jesus ser derivado de Zeus.

Realmente parece haver uma semelhança entre os nomes Jesus e Zeus, como se Jesus fosse o nome Zeus adicionado de um “Je” inicial (Jezeus<->Jesus). Essa semelhança revela-se superficial, quando vamos analisar os nomes em suas línguas originais, o grego:

Jesus em grego: Ιησους;

Zeus em grego: Ζεύς.

Quando escritos em caracteres gregos, os nomes se mostram bem diferentes. O “e” de Jesus é um “e longo” (η), o de Zeus é um “e curto” (ε). O “u” de Jesus é formado pela combinação de duas letras, um omicron (ο) e um ípsilon (υ), o de Zeus é um ípsilon com um acento agudo (ύ). As diferenças entre as duas palavras inviabilizam o desenvolvimento de uma a partir de outra.

Uma vez desfeitos todos os argumentos das Testemunhas de Yehôshua, deve-se perguntar: será que toda essa discussão, sobre a forma de um nome ou sua pronúncia original, é realmente necessária? O grupo religioso apresenta uma série de versículos bíblicos referentes ao nome de Deus, como Isaías 52:5:

E agora, que tenho eu aqui [que] fazer, diz o SENHOR, pois o meu povo foi tomado sem nenhuma razão? os que dominam sobre ele dão uivos, diz o SENHOR; e o meu nome [é] blasfemado incessantemente todo o dia.

O Antigo Testamento é, de fato, abundante em referências ao “nome de Deus”. Vamos analisar uma destas referências: Malaquias 1:6b-7:

[...] diz o SENHOR dos Exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome e dissestes: Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo, e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto que dizeis: A mesa do SENHOR é desprezível.

Os sacerdotes estavam profanando o nome de Deus não por estar o pronunciando incorretamente, mas por estar oferecendo pão imundo a Ele. Profanar ou santificar o nome de Deus não tem relação com a pronúncia de um nome hebraico, mas sim em obedecer seus mandamentos e temê-lo.

O apóstolo Paulo também aborda esta questão do nome em Atos 17:23:

porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais não o conhecendo é o que eu vos anuncio.

Veja bem. Paulo usou o nome “Deus desconhecido” para se referir ao verdadeiro Deus. Como estava numa localidade grega (Atenas), e retirou este título de um monumento grego, obviamente a frase estava em grego: αγνωστω θεω (agnósto téo). Ou seja, Paulo utilizou um nome grego para se referir ao verdadeiro Deus! Ele se importava a quem estava se referindo, não ao nome que estava pronunciando. Paulo diz que devemos seguir seu exemplo, pois ele seguia o do Messias (1 Coríntios 11:1). Assim, se ele não teve problemas em utilizar um nome que não era hebraico, então nós também não devemos ter.


Apêndice: Desenvolvimento do nome

Vou agora começar a mostrar como o nome do Messias se desenvolveu através do tempo e de diversos idiomas. Irei mostrar como o nome foi mudando de sua forma hebraica, para a aramaica, e então para a grega, oferecendo evidências arqueológicas e historiográficas para isso.


O hebraico Yehoshua

O nome Yehoshua foi dado por Moisés a Oséias ben-Nun (הוֺשֵׁעַ בִּן-נוּן), inserindo a letra yod (י) no início do seu nome antigo, chegando a Yehoshua (יהושע).

Estes [são] os nomes dos homens que Moisés enviou a espiar aquela terra: e a Oséias, filho de Num, Moisés chamou Josué. (Números 13:16)

“Yeho” ( יהו) é uma abreviação do Tetragrama, se referindo à Deus. “shua” (שע) significa “um grito por ajuda”. Portanto, Yehoshua significa “Deus socorre”. Esse nome foi bem utilizado pelos judeus até o cativeiro babilônico.


O aramaico Yeshua

Depois de retornar da Babilônia, por onde estiveram por 70 anos como cativos, os judeus falavam não mais hebraico, mas sim aramaico, uma língua com algumas similaridades com o hebraico e que era uma língua comum em todo o Crescente Fértil. Daí se explica o porque de, na leitura da lei no livro de Neemias, ser necessário fazer tradução (Neemias 8:8). A literatura judaica do período foi escrita em aramaico; o melhor exemplo são os Targumim, paráfrases do Antigo Testamento em aramaico. Esta linguagem continuou a ser utilizada pelos judeus até o século V.

Como já foi dito, os nomes sofrem alterações ao serem levados para outra língua. Aqui aconteceu a mesma coisa. Muitos nomes hebraicos experimentaram mudança, como Yehochanan (יהוחנן), que se tornou Yochanan (יוחנן). Da mesma forma, o nome Yehoshua se tornou Yeshua (ישוע). Os judeus consideravam os nomes Yehoshua e Yeshua intercambiáveis, trocando um pelo outro sem qualquer problema. Para ter evidência disso, basta dar uma olhada nos textos bíblicos em hebraico. Em Neemias 8:17,o filho de Nun é chamado de Yeshua (יֵשׁוּעַ בִּן-נוּן) ao invés de Yehoshua. Por outro lado, nos livros de Esdras e Neemias, existe um sacerdote, Josué (ou Jesuá) filho de Josadaque, em hebraico Yeshua ben Yozadak (יֵשׁוּעַ בֶּן-יוֺצָדָק). No livro de Ageu, o mesmo sacerdote é chamado de Yehoshua ben Yehozadak (יְהוֺשֻׁעַ בֶּן-יְהוֺצָדָק). Yehoshua era trocado por Yeshua e vice-versa, sem qualquer problema. Existem mais evidências da larga utilização do nome Yeshua no período do Segundo Templo (desde o retorno de Babilônia, em 586 a.C.; até a destruição de Jerusalém, em 70 d.C.): ele é encontrado em 71 tumbas desse período. Em Sirácico, um livro escrito no século II a.C. (mais conhecido em português por Eclesiástico) na Palestina, temos o autor afirmando se chamar Yeshua ben-Sirach.

Temos também evidências deste nome se aplicando ao Messias. A Peshita (versão do Novo Testamento em aramaico) e a Antiga Bíblia em Siríaco (uma língua similar ao aramaico) usam as letras aramaicas correspondentes às letras hebraicas de Yeshua, que são ܝܫܘܥ. Por exemplo, essa página do Khaburis, o manuscrito aramaico mais antigo do Novo Testamento:



O grego Iesous

A transformação do nome Yeshua para o grego Iesous, devido à mudança de idioma (num processo extremamente comum, como já foi mostrado), ocorre da seguinte forma:

יְ

A letra Yod, que corresponde a nosso “y”, com o sinal shevá, que indica a vogal “e”. Logo, o som aqui é “Ye”.

Ιη

A letra grega iota, que equivale a nosso “i”, e a letra eta, que equivale a um “e” longo. O som é “Ie”, sem alteração do hebraico.

שׁ

A letra Shin, que corresponde a um “sh”.

σ

A letra sigma, correspondente a um “s”. Como no grego o “s” não se associa com o “h” para fazer som de “x”, então o “h” é removido e temos um som de “s” puro.

וּ

A letra vav, que pode ser um “v”, “o” ou “u”. Com o sinal que recebe (dagesh), se torna um “u”

ου

As letras omicron, que é o nosso “o”, e ípsilon, que é “u”. Quando essas duas letras formam um ditongo, soam como “u”. Novamente, sem alteração de uma língua para outra.

עַ

A letra ayin, que corresponde a uma pausa, com o sinal patah, que adiciona um “a”. Aqui, o “a” é pronunciado, mas bem fraco.

ς

O som do ayin não tem correspondente no grego, por isso é removido. Em seu lugar vem a letra sigma (que muda de forma quando no fim da palavra.)

Talvez alguém (com razão) indagar por que o “s” foi colocado no final do nome. Para explicar isso é necessário introduzir algumas noções da língua grega. Os substantivos no grego podem estar em 5 modos: nominativo (quando o substantivo assume a função de sujeito); acusativo (substantivo como objeto); vocativo (quando estamos nos dirigindo ao substantivo); genitivo (quando dizemos que algo está na posse do substantivo) e dativo (quando atribuímos algo ao substantivo). Cada um desses modos é determinado pela terminação do substantivo. Com o nome Jesus em grego, é a mesma coisa. Ele faz parte de uma classe de substantivos que tem as seguintes terminações para cada modo, no masculino singular:

Vocativo, e dativo: ον;

Genitivo: ου;

Acusativo: υν;

Nominativo: υς.

O “s” final entra devido ao nome estar no caso nominativo, já que ao proferirmos ele, toma a função de sujeito.

Várias fontes fazem utilização desse nome, antes e depois do Messias. A Septuaginta, tradução do Antigo Testamento para o grego escrita no século II a.C., faz seu uso tanto para adaptar o nome Yehoshua quanto Yeshua. A tradução para o grego do já citado Sirácico, traduz todas as ocorrências de Yehoshua e Yeshua para Ιησους. Fílon de Alexandria (15 d.C. -30 d.C.), também faz larga utilização do nome Ιησους em todas as ocorrências de Yeshua. Flávio Josefo, judeu nascido na Galiléia, também utiliza o nome nos seus escritos em Grego.

As evidências desse nome se referindo ao Messias na língua grega são abundantes.Todos os manuscritos que temos do Novo Testamento em grego registram o nome Ιησους como se referindo ao Messias.

Uma urna funerária datada da segunda metade do século I, de um certo Simão Barsabás (existiam duas pessoas entre os primeiros cristãos que tinham sobrenome Barsabás: José Barsabás [Atos 1:23] e Judas Barsabás [Atos 15:22]) tem inscrita em si o nome Ιησους em dois ossuários, e certos especialistas identificaram isto como sendo um pedido para que o Messias ressuscitasse o morto. Porém, devemos tomar esta descoberta com cautela, já que outros estudiosos dizem que não seria de fato uma referência ao Messias, mas à pessoa no ossuário. De toda a forma, temos confirmação de que este nome era utilizado entre os primeiros seguidores do Messias, já que existem cruzes inscritas nos ossuários.

Um exemplo de manuscrito que faz a utilização do nome Ιησους, o Papyrus 66, datado do século II:



Aí temos um par de letras com uma barra em cima, o que indica um estilo de abreviação onde a primeira e a última letra do nome eram utilizados. Este manuscrito é um uncial, onde só são utilizadas letras maiúsculas. O nome Ιησους em maiúsculas no grego é ΙΗΣΟΥΣ. A primeira e a última letra neste caso são ΙΣ, e não IC como se lê no manuscrito. Isso se explica pois no oriente a letra Σ (sigma) era muitas vezes representada na forma de um C (a isso se chama sigma lunar). Escrito sob essa variante, o nome seria ΙΗCΟΥC, e sua abreviação IC. Um exemplo de como o nome do Messias ia se adaptando a cada língua. Por outro lado, as Testemunhas de Yehôshua não exibem qualquer evidência de que o nome do Messias permanecia inalterado às mudanças de cada língua.

Se alguém ensina [alguma] outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesu Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa da ganância. Aparta-te dos tais. (1 Timóteo 6:3-5)


Referências:

BRAGA, James. Como estudar a Bíblia. Editora Vida. São Paulo, 2004.

CABRAL, J. Introdução Bíblica. Universal. Rio de Janeiro, 1995.

DOBSON, John H. Aprenda o Grego do Novo Testamento. Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Rio de Janeiro, 1994.

http://www.chronarchy.com/esus/aboutesus.html

http://www.celtnet.org.uk/gods_e/esus.html (As melhores páginas da Internet sobre Esus. Em inglês.)

http://aramaicbible.us/Khaburis/ (Uma ótima página sobre o Khaburis, manuscrito aramaico mais antigo do NT. Tirei a foto do manuscrito citado de lá.)

http://www.bible-researcher.com/papyrus66.html

Artigo da Catholic Encyclopedia “Origin of the Name Jesus Christ”. (disponível online em http://www.newadvent.org/cathen/08374x.htm)

Artigo da Jewish Encyclopedia “JOSHUA (JEHOSHUA)”. (disponível online em http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=544&letter=J&search=Joshua%20bin%20Nun)

http://www.direct.ca/trinity/yehoshua.html

"Is this really the last resting place of Jesus, Mary Magdalene - and their son?". Jornal britânico The Guardian. (Disponível online em http://www.guardian.co.uk/religion/Story/0,,2022252,00.html.)

http://www.messiahtruth.com/name.html (Trata-se de uma página contra o nome Yeshua, escrita por judeus. Os argumentos, são, sinceramente, melhores que os das Testemunhas de Yehôshua.)

http://www.webtopos.gr/eng/languages/greek/alphabet/sigma.htm

http://www.worldinvisible.com/library/ffbruce/ntdocrli/ntdocc08.htm

http://neonostalgia.com/xtian/EarlyXnInscriptionsWithPics.pdf

A tradução Bíblica para o português utilizada foi a Almeida Revista e Corrigida. A versão hebraica foi a WLC. As gregas foram a Textus Receptus e a Westcort-Hort.