sábado, 5 de novembro de 2011

Da suposta unidade de Roma

Esse post tem suas origens no blog de meu amigo Jonadabe, o Porque creio. Ele fez o seguinte post:

http://porquecreio.blogspot.com/2011/10/so-para-recapitular.html

o qual tece várias críticas para os protestantes (Jonadabe é um ex-protestante, que se converteu ao catolicismo romano). O principal ponto arguido é que os protestantismo está corroído por divisões, que acontecem a cada instante, enquanto a Igreja Católica Romana continuava "Una".

Diante disso, exerci o direito de defender minha fé, fazendo um comentário no post, no qual eu arguia que a unidade romana era apenas aparente: na verdade, a ICAR continha grupos que discordavam entre si e chegavam a atacar um ao outro. Isso provocou comentários de diversos católicos, que por terem maior extensão responderei aqui mesmo. Estou assumindo que o leitor já conferiu os comentários no post do Jonadabe.

Primeiro, de alguém que usa o nickname "Testemunhos Católicos":
Ora, meu Deus do céu! E o que os ritos e grupos da Igreja afetam a sua unidade? Protestante realmente não sabe o que é unidade. A unidade da Igreja está na sua doutrina e nos seus dogmas, na sua moral e na sua fé. Modos diferente de se viver sempre vão existir, e é justamente nisso que se encontra a unidade da Igreja.

Os ritos? O que isso influencia? Os ritos são modos da missa ser celebrada, de acordo com a cultura e os traços locais. Desde quando tudo tem que seguir o rito ocidental latino? Falando de grosso modo, a maneira que nossas pernas caminham não afetam a nossa caminhada em linha reta.
Concordo perfeitamente com você de que o formato dos ritos não afeta em nada seu significado, nem é uma questão crucial. É exatamente um dos motes de protestantismo. Quando eu falei dos ritos, não estava dizendo que eles comprometem a essência, mas que existem pessoas dentro da ICAR que pensam assim e conclamam um "retorno às origens". Você precisa ir dizer isso para teus correligionários tradicionalistas, que pensam de forma diferente. Para comprovar o que eu digo, confira este singelo parágrafo:
Recordando-me desta doutrina certíssima e irrevogável da Madre Igreja [da Eucaristia] e observando as transformações, convulsões e experiências peculiares do que atualmente ousam qualificar de renovação litúrgica, sou como que forçado a concluir que esta balbúrdia se rege por uma doutrina oposta à doutrina ortodoxa. (http://permanencia.org.br/drupal/node/2118, as enfases são todas do autor)
E este artigo segue dizendo que as mudanças litúrgicas comprometem a transubstanciação e a doutrina do Sacrifício de Cristo. Não que eu concorde com isso, repito (sendo protestante, não creio na transubstanciação), estou apenas demonstrando a que ponto os católico-romanos divergem entre si. E o que vem a seguir é quase uma admissão disto, pela boca de outro tradicionalista:
Então quem está dentro da Igreja? Aqueles que aceitam e procuram por em pratica as falsas doutrinas do Vaticano II ou aqueles que as recusam abertamente para permanecer fieis ao que o Magistério, assistido pelo Espírito Santo, ensinou durante dezenove séculos? (http://www.fsspx-brasil.com.br/page%2005-2ja.htm)
Volto a dizer, não concordo necessariamente com as teses dos tradicionalistas nem estou arguindo por elas. Estou usando-as apenas como exemplo de divisões dentro da ICAR.

Em seguida, o "Testemunhos Católicos" diz:
Os grupos? Isso é piada ou algo parecido? Querer comparar Arautos do Evangelho com Testemunha de Jeová só pode ter algum tipo de problema crônico na cabeça.
Oh, certamente minha comparação foi um pouco desproporcionada. As Testemunhas de Jeová, posto que socinianos e pondo todas as decisões doutrinárias como derivadas de seu "Corpo Governante", nunca desceu ao ponto dos Arautos do Evangelho, que chegam a erigir uma idolatria ao "Sr. Dr. Plínio". Vide:

http://www.montfort.org.br/index.php/blog/nova-confirmacao-do-culto-delirante-prestado-a-plinio-correa-de-oliveira/#more-6723

(Oh, a sempre viva Fundação Montfort, o site católico que mais provê recursos para os protestantes no país...)

Quanto à sua insinuação de que eu tenho "algum tipo de problema crônico na cabeça", sugiro que leia Mateus 5:22.

E logo após:
Protestante é tão complexado com suas 500.000 seitas que parecem que ficam com inveja quando ouvem a palavra "unidade". Ai qualquer cor diferente que vê em um mesmo lugar já diz que quebrou a unidade.
Como eu já mostrei, não sou eu que estou dizendo, são os teus próprios irmãos. Vá reclamar com eles. Aliás, de onde saiu esse seu número aí?

Quero também comentar a declaração de um certo Helder:
É por isso que o restante da Igreja se cala quando Pedro fala no 1º concílio(At. 15) e dissolve a discussão entre S. Paulo e S. Tiago.
Você deve ter uma versão especial do livro dos Atos dos Apóstolos, pois o texto disponível para todos tem um conteúdo completamente diferente. A controvérsia não é entre S. Paulo e S. Tiago, mas entre S. Paulo e judaizantes cujos nomes não são mencionados (At 15:1-2, 5). S. Pedro, como discípulo do Senhor, certamente tem sua parte no Concílio de Jerusalém que resolveu esta questão, mas a última palavra não é sua, e sim de S. Tiago (15:13-21). E a decisão é creditada aos "apóstolos e anciãos, com toda a igreja" (15:22). Não somente isso, mas quando Pedro acaba, em Antioquia, a concordar momentaneamente com os tais judaizantes, é duramente repreendido por Paulo (Galátas 2).

Não quero, porém, focar a discussão no "Primado de Pedro" e sua relação com a autoridade do Bispo de Roma (ainda que seja oportuno fazer isso em outro momento). Meu ponto principal é que os católico-romanos estão suscetíveis de divisões, tanto quanto os protestantes.